O padre Manuel da Costa Vasconcelos Delgado (1790-1856) é uma das figuras mais emblemáticas da história dos arganilenses - tanto pelo que fez ao serviço da Igreja local como da correspondente sociedade civil. À frente da igreja de São Gens, foi um zeloso administrador do património religioso da paróquia, desenvolveu uma brilhantíssima acção no campo da educação musical dos paroquianos, e, porque era de facto pessoa dotada de acentuado sentido artítico, imprimiu às cerimónias religiosas da vila do seu tempo um esplendor como talvez nunca tivessem atingido. Por outro lado, no plano cívico, a sua actuação como autoridade administrativa - foi simplesmente modelar.
Pertencente à aristocracia da terra e, ainda por cima sacerdote, a onda de intolerância miguelista que no seu tempo varreu o País não lhe perdoou o "crime" de pensar que o Homem nasceu para ser livre. E assim o perseguiram com uma fúria selvática, Serra fora, até o prenderem e encurralarem, durante anos, na prisão de Almeida. Todavia, quando daí saíu, após a vitória do liberalismo, em 1834, e se encontrou à frente da Administração de Arganil, sua terra natal, teve a grandeza de alma necessária para ignorar os "zelosos" conterrâneos que lhe fizeram a vida negra.
Ora, a primeira coisa que provavelmente chama a nossa atenção quando entramos neste espaço - onde a vil deve ter iniciado o seu desenvolvimento urbanístico - é o pelourinho, que temos na frente. Havendo-se perdido a memória do monumento original, a Câmara incumbiu, há anos, o investigador histórico e artista arganilense A. Nunes Pereira, de conceber um pelourinho que substituísse o primeiro, o qual de resto ninguém sabe onde se localizava. Trata-se pois dum projecto daquele atista, natural da Mata do Fajão (Infelizmente, há pouco falecido).
A pedonal que faz a ligação deste largo à rua Cinco de Outubro chama-se (actualmente) rua Comendador António Lopes da Costa, (que viveu e faleceu no n.º 5) antigo professor primário e pessoa ilustre de Arganil. Já na última fase da sua vida, ainda foi director de "A Comarca", havendo-se dedicado então simultaneamente, a fazer investigações sobre a história sua terra - o qu lhe iria dar ensejo a publicar importantes notícias referentes a esse tem naquele jornal.
Avançando para a esquerda temos a velha Fonte da Bica, que deu o nome a esta zona da vila.
No terreno que se vê por cima da fonte propriamente dita (Terreno hoje ocupado com construções recentes.) existiu em tempos recuados aquele que foi porventura o solar de maior requinte arquitectónico que alguma vez terá existido em Arganil. Segundo a historiadora arganilense Regina Anacleto, foi construído em anos de setecentos pelo reitor dr. Manuel Lemos Tunes. Por morte deste, passou à posse duma irmã que casaria com um representante da família Barreto Perdigão Vilas-Boas, de Góis, casal esse que estabeleceu residência em Arganil. O solar foi passando à posse doutros descendentes, até que em 1890, um deles, que vivia em África, veio a Arganil para vender tudo o que aqui possuía, não se sabe a quem. Assim se compreende que esse imóvel tenha permanecido na memória dos arganilenses como o "solar dos Perdigões Vilas-Boas". Em 1906, diz Veiga Simões, já o solar se encontrava em deplorável estado de conservação. Presentemente, os únicos vestígios conhecidos do solar - aliás vestígios da respectiva capela - são fragmentos do célebre retábulo, em pedra de Ançã, figurando a Última Ceia, que se encontram em exposição permanente nos Paços do Concelho.
Mesmo em frente da Fonte, no n.º 17, encontra-se a "Casa dos Vasconelos", que foi propriedade desta família arganilense e onde viveu o padre Delgado. Era inicialmente um vasto casarão com frente para este largo e fazendo esquina para a rua adjacente. A certa altura, porém, devido a partilhas, deu origem a duas unidades distintas, situação que se mantém.
Daqui parte, em direcção ao Paço, a rua Frederico Simões, outro notável de Arganil, grande entusiasta da constituição do corpo de Bombeiros Voluntários Argus, de que foi aliás o primeiro comandante.
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